
Never Alone, é produzido pela Upper One Games, em colaboração com uma organização que trabalha com o Inupiaq, povo nativo do Alasca, emprestando os seus conhecimentos e lendas, a partir dos quais se estabelece a fundação e a base de todo o jogo, toca por completo em nossas almas. Por isso, muito mais do que um simples jogo de plataformas clássico, Never Alone é acima de tudo uma experiência cultural e uma transmissão de história, símbolos, tradições inigualáveis em forma de jogo. Excelente ideia, por sinal.

Ver um estúdio que dobrou suas mecânicas e composição ingame em função de influências culturais externas [e algo digno e raro de se ver. suas mecânicas. Com ótimas histórias baseadas em suas tradições, voltados sobre o homem e o seu lugar neste mundo, o game é muito bem executado em termos de direção de arte e mecânica de jogo, principalmente tratando-se de um indie.

Um dos grandes feitos nesta obra é justamente apresentação de curto documentário sobre o próprio de jogo ou vice-versa. A narrativa de Never Alone, é ancorada na vida do povo indígena capaz de sobreviver às mais duras condições climáticas do planeta e de sua harmonia com todo um ecossistema sustentável, onde o respeito e o sentido de comunidade e partilha são admiráveis.

Não espere por uma aventura muito complexa, em sua jogabilidade. Afinal, o principal objetivo aqui é a transmissão do conhecimento, na forma divertida de uma game simples e honesto, mas muito bem realizado. Embora possa ser visível a carência de conhecimento e esmero técnico que lhe faltou, algumas vezes. Mesmo assim é uma experiência gratificante e que merece uma chance, ainda que não seja uma completa obra de arte em forma de jogo.

Em Never Alone jogamos com dois personagens, em que é possível alterar entre eles com apertar de um botão. Nuna, uma menina Inupiaq e uma raposa branca do ártico, são nossos heróis controláveis. Nossa história começa com a busca de Nuna, enfrentando fortes rajadas de ventos e frio, para descobrir a origem da revolta climática que castiga e ameaça destruir a sua comunidade. Partindo sozinha na jornada insólita, eis que cruza o seu caminho a raposa branca, servindo de companhia e até de apoio na superação dos obstáculos. Mais leve e ágil, a raposa do ártico consegue ainda subir e alcançar plataformas mais elevadas e inacessíveis à pequena Nuna, que por sua vez, consegue puxar ou empurrar pesadas caixas.

As dificuldades do jogo estão presentes, não no modo de jogo em si, mas sim no seu mecanismo. Por vezes a resposta aos comandos não é a melhor, incorrendo em erro que tende a repetir-se com alguma frequência. Mas nada que possa desgostar do jogo, como um todo.

O avanço do enredo é marcado por uma narração no dialeto Inupiaq, com pequenas cenas animadas que antecedem o capítulo seguinte. Com um nível de dificuldade nada exigente e trazendo uma experiência curta em jogabilidade, mas que em nada estraga a diversão do jogo e as histórias narradas daquele povo, ainda muito vivas na nossa memória, a Upper soube aproveitar todas ferramentas para contar-nos uma história baseada nas tradições indígenas desse povo.

A Upper One Games nos entrega um belíssimo trabalho do ponto de vista artístico e narrativo, pela inovação em mesclar um documentário em forma de jogo ou jogo em forma de documentário.
