Review – The Wolf Among Us

Exilados de suas terras natais pelo a quem chamam de “O Adversário”, os principais personagens dos contos de fadas foram forçados a mudar para a cidade de Nova York, numa comunidade chamada de Fabletown. Referindo-se a si mesmos como Fabulas. eles são forçados a conhecer uma dura e mundana realidade. O mundo “real” é algo completamente estranho para eles e por vezes, podem não ter a mesma sorte que tiveram no passado encantado, nesta nova realidade. E é essa a temática que brilhantemente foi proposta por Bill Willingham, ao criar a série em quadrinhos Fábulas (Fables, título original), que retrata a vida clandestina desses personagens, em Nova York e as suas novas e duras realidades. Nada ali é encantador como já vistos nos contos infantis. Muito pelo contrário. Alguns personagens não podem nem mesmo andar em público pois não podem ser vistos, devendo continuar em segredo.

Existem diversos personagens com novas e incríveis vidas dentro desta comunidade clandestina, mas é justamente Bigby (o Lobo Mau em pessoa), quem assume o papel principal e de protagonista de The Wolf Among Us. Aqui ele é o xerife da comunidade das fábulas (Fabletown) e como apresentado nas HQs, há um mistério envolto em crimes cruéis ocorrendo na cidade, e tudo isso apresentado em forma de uma série gráfica em episódios, como em The Walking Dead (ambos da TellTale).

Se jogaram

The Walking Dead então sabem muito bem o que esperar. Podemos definir claramente seu gameplay em três etapas: 1 – Trata-se de um point and click de mecânica atualizada em que é possível movimentar-se pelo cenário interagindo com pontos e momentos específicos. 2 – Diálogos onde teremos diversas decisões à serem tomadas dentro de um determinado período de tempo; 3 – E os QTEs (Quick Time Events) onde é preciso clicar/acionar pontos específicos na tela. Assim se resume a mecânica de The Wolf Among Us.

Porém, o seu maior mérito não está relacionado à esta formula, mas sim na sua narrativa extremamente profunda, cativante e coerente.

The Wolf Among Us nos apresenta em seus cinco episódios, personagens fortes, coesos e interessantes, sob um prisma completamente diferente do que vimos nos Contos de Fada. A Telltales faz um excelente trabalho, resultando em perfeita sintonia de seus diversos fatores. A aventura gráfica é simples porém bastante madura e profunda, e os belos visuais são acompanhados de dublagens de primeiríssima qualidade. Logo, irá com certeza agradar aos fãs do gênero e aos fãs de Fables (Quadrinhos).

O Xerife Bigby irá, ao longo da história, conhecer personagens famosos em situações estranhas ou até jamais imaginadas (as quais não irei revelar aqui) ou melhor, imaginadas sim pela obra de Willingham. Agora, pense em alguma fábula infantil e subverta-a para um aspecto mais noir ou sinistro, completamente incomum de seu habitat natural, e adicione uma pitada de maturidade, sarcasmo, sexualidade e crueldade. Pronto, é disso que estou falando. Tanto o trabalho esplendoroso de Willingham, quanto o game em questão criado pela Telltale.

Nada é tão simples como parece em Fabletown, há todo um ar de mistério, crimes e importantes decisões a serem tomadas pelo jogador, e que aos poucos vai conhecendo a narrativa espetacular. Existem alguns momentos os quais teremos que pensar rápido e a reagir para poder prosseguir na narrativa. Algumas pessoas podem até ficar chocadas com alguns acontecimentos e de como alguns personagens encaram suas vidas, a ausência de todo o glamour e pompa é evidente, e a sensação de desencanto é notória. O Lobo Mau Bigby parece ser o guia perfeito para este mundo cercado de tramas por todos os lados.

O game consegue com maestria dar uma sensação de um cartoon (comics) animado, de forma impressionante. A paleta de cores utilizada, os traços, a temática mais adulta e o tom noir trabalham em total harmonia para dar vida aos personagens, resultando num produto único e de excelente bom gosto. Destaque especial para as dublagens e áudio presentes no game. Trabalho técnico impecável.

Mas nem tudo são flores

Existem falhas que ao meu ver, como gamer que sou, The Wolf Among Us peca desde sua concepção ao desenvolver a aventura sob capítulos periódicos, encurtando inevitavelmente a questão de longevidade de gameplay. Outro ponto que gostaria de destacar negativamente, é quanto a dificuldade, ou melhor, sua completa inexistência. Não há, em todo o game, o fator desafiador que poderia perfeitamente ter sido mais e/ou melhor implementado ao título. Talvez, a Telltale não quisesse descaracterizá-lo ao aplicar um sistema mais desafiador, frente aos seu titulo anterior, mantendo assim a mesma formula vitoriosa do passado. Não sei.

Há também a questão da ausência do idioma/legenda em português, fato este já marcante nos jogos da Telltale. Uma pena, pois quem não domina o idioma inglês pode perder grande parte da experiência, conhecimento da história e imersão na trama. Espero que essa política da Telltale seja revisada e os novos títulos cheguem localizados no Brasil, pelo menos contendo legendas na nossa língua.

The Wolf Amongs Us cresce em narrativa e conceitos ao prosseguir na aventura, através dos episódios. É uma abordagem fascinante de um universo rico em informações e deturpação dos contos de fadas. O estúdio soube aproveitar muito bem o trabalho de Bill Willingham, ao nos dar um vislumbre para um mundo de fantasias, que ao mesmo tempo luta sem fazer muita força para ser real.

Escrito por Fernando Farnochi

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