Storyteller #02 – Relato de Guerra: Koopa Troopa

Não sei como começar este relato. Penso em amenizar os acontecimentos que presenciei, mas por mais que possa aliviar em tudo, ainda será aterrador para qualquer um. Faço parte da Koopa Troopa há mais de 10 anos, e ainda não havia me deparado com o monstro que nos assola sempre que nosso Rei Koopa tenta “sequestrar” a Princesa Peach. Se fecho meus olhos, ouço os gritos, o barulho de ossos se quebrando, cascos soltando faíscas ao deslizarem pelo chão. Novamente sinto o embrulho no estomago que me tomou naqueles momentos na Floresta da Ilusão.

Preciso ser forte, mas não consigo esquecer a carnificina.

O boné vermelho como o sangue, o bigode que emoldurava a boca do demônio, e o terror…

O TERROR!

Aquele era um dia comum. Havíamos invadido e conquistado a Floresta da Ilusão há três dias, e tudo corria bem. Como era de costume, construímos Postos de Controle em pontos estratégicos da estrada principal. Como capitão de uma unidade Koopa Troopa, eu teria que passar meu turno em um Posto de Controle, observando e organizando a proteção do lugar de cima de uma das plataformas que havíamos instalado na floresta após a derrubada de algumas árvores. Estava já há algumas horas na plataforma e abaixo dela um grupo de quatro goombas (idiotas inúteis) não paravam de conversar. Eu tentei não prestar atenção, já que essa era uma classe inferior de soldados que serviam mais como “bucha de canhão”. E como eu já sabia, eles gostavam mesmo era de uma boa fofoca, e não pude deixar de prestar atenção quando ouvi o nome Bowser da boca de um deles. Esse é o nome do nosso Rei Koopa. Como os goombas não eram da raça koopa, não tinham respeito pelo nosso rei e o chamavam pelo nome e não pelo título. Como superior deles, pensei em lhes dar uma boa bronca, mas minha curiosidade me calou e continuei escutando. Dizia um deles:

— … se é verdade ou não, eu não sei. Mas o que dizem é que o Bowser e a gostosa da Peach estão é enganando o… o… Encanador.

  Ao falarem sobre nosso maior inimigo, o Encanador, a voz do goomba tremeu.
  Outro deles perguntou:
 — Mas como assim enganando?
 — Deixa de ser idiota, George, é óbvio que eles planejam unificar as forças para governar o Reino do Cogumelo.  E com isso a gente é que se ferra a cada “sequestro”.
  Certo e errado. O rei e a princesa realmente enganavam o Encanador, mas mal sabiam eles que o que motivo de o Rei Koopa e a Princesa Peach enganarem nosso inimigo era simplesmente uma tórrida paixão proibida.
  O rei era casado e com uma gigantesca família, e a princesa era envolvida com as responsabilidades de ser a futura rainha do Reino do Cogumelo e levava um romance “água com açúcar” com o Encanador. Sendo assim, ambos não podiam assumir essa paixão. E assim sendo, bolavam alguns “sequestros” ocasionais para que pudessem se encontrar no Koopa’s Castle até o “resgate” do Encanador.
  Como eu sei disso? Oras, conheço um Shy Guy que ouviu o rei contando vantagem com um amigo Magikoopa.
  Povinho realmente muito fofoqueiro.
  E em outra coisa o goomba estava certo: As tropas é que sofriam a cada novo “sequestro”.
 
  Mais algumas horas tranquilas se passaram até que vi fumaça no horizonte.
  Gritei para os goombas que estavam abaixo da plataforma:
 — Hei, fiquem atentos, vejo fumaça logo a frente.
  Os pobres ficaram assustados, pois o mais provável era que o Encanador estivesse tentando reconquistar a Floresta da Ilusão.
  Alguns minutos se passaram e outro foco de fumaça começou a se formar mais próximo ao meu posto.
  Porém o que mais me assustou é que um vulto surgiu por entre as árvores, próximo ao segundo foco de fumaça, planou alguns segundos no ar e em seguida mergulhou na floresta novamente. Em seguida, sentimos todos um tremor de terra.
  Olhei para baixo e os goombas estavam em pânico. Meus companheiros koopa troopa tentavam demonstrar coragem, mas eu sabia que estavam tão ou mais assustados que os goombas.
  Gritei para todos:
 — Não abandonem seus postos!
  Todos assentiram, porém sem muita segurança.
 
  Mais alguns minutos se passaram quando o terceiro foco de fumaça surgiu a menos de 500 metros de onde estávamos.  Exatamente onde ficava o Posto de Controle mais próximo do nosso.
  Olhei a minha volta e os koopa troopa pareciam estar prestes a perder o controle. Eles não permaneceriam em seus postos por muito tempo. Todos sabiam o que estava acontecendo, e todos sabiam o invariável resultado.
  Decidi tomar uma atitude:
 — Vou  até o Posto de Controle mais a frente verificar o que está acontecendo— saltei da plataforma, e assim que toquei o chão apontei para um dos goombas — Você vem comigo.
  O pobre goomba engoliu a saliva, mas mesmo apavorado me seguiu.
  Antes de adentrar a floresta gritai para a tropa:
 — Quem abandonar o Posto de Controle será dado de comida as Plantas Piranhas.
  Todos assentiram.
  Adentramos a floresta andando apressadamente. Nestas horas o casco em minhas costas não ajudava muito, mas era a minha maior proteção contra ataques.
  O goomba caminhava com dificuldade, ofegante, mas obediente vinha logo atrás de mim.
  Quando estávamos a menos de 100 metros do foco da fumaça, começamos a ouvir os gritos de desespero.
  Você que esta lendo este relato pode tentar imaginar, mas eu nunca havia ouvido gritos daqueles.
  Fui caminhando com cuidado e os gritos foram ficando mais altos e desesperadores.
  Dei mais alguns passos na mata fechada, em direção ao Posto de Controle, e quando consegui vislumbrar o local, uma lufada de vento que surgiu do chão me impediu de cair num fosso que separava o Posto de Controle da floresta.
  Olhei para baixo e só havia escuridão. Mais fosso sem fundo.
  Porém assim que olhei para o Posto de Controle a minha frente, toda a esperança me abandonou.
  Foi a primeira vez que vi o Encanador pessoalmente. Aquilo estava longe de ser um homem… era um terrível monstro.
  Ele usava sua conhecida roupa vermelha, mas uma capa amarela descia por suas costas. E aparentemente a capa lhe dava o poder de voar ou planar, pois ele saltava e planava no ar enquanto atacava o posto com giros mortais e saltos certeiros.
  Era assustador ver o Encanador usar de sua força descomunal ao saltar e pisotear os goombas ou os koopa troopa com tamanha violência.
  O som dos ossos se quebrando, o sangue espirrando nos blocos de construção.
  Ele era invencível.
  Eu permanecia estático enquanto o Encanador saltava sobre mais um companheiro koopa troopa e o casco do soldado o salvava momentaneamente.
  A violência do salto o empurrou para um lado enquanto o casco permaneceu no lugar. Fitei o rosto do Encanador quando, com seu sorriso doentio emoldurado pelo bigode, ele chutou o casco na direção do meu companheiro.  Tamanha foi a força do chute que o casco arrastou o corpo de meu igual por vários metros, deixando um rastro de sangue, pele e carne triturada.
  Foi neste momento que meu estomago revirou.  Me esforcei para segurar meu almoço.
  Me lembrei então do goomba, ele estava encolhido entre as raízes de uma grande árvore, trêmulo e sem cor. Porém eu não tinha tempo a perder com ele. Eu tinha que correr para avisar o meu Posto de Controle que o Encanador avançaria sobre nós.
  Foi quando algo novo aconteceu.
  O Encanador encontrou um ovo verde entre algumas caixas. Em segundos o ovo chocou e um dinossauro de uns dois metros, com a mais doentia feição que já havia visto saiu de dentro. Parecia uma sádica e feroz miniatura de um tiranossauro. O Encanador sorriu novamente e saltou sobre a criatura, montando-o como um cavalo.
  Ouvi quando ele disse:
 — Está com fome Yoshi?
  O bramido ensurdecedor do mini-tiranossauro deve ter sido ouvido além do meu Posto de Controle. Esperava que isto os tivesse alertado.
  Mesmo assim, eu deveria ter corrido e tentado salvar meus companheiros, já que o Posto de Controle que se encontrava a minha frente estava condenado. Mas minhas pernas não me obedeciam.
  No meio tempo em que o Encanador montava o tal de Yoshi, mais alguns koopa tropa e goombas se aproximaram na vã esperança de conseguir contra-atacar nosso inimigo.
  Tolos.
  Antes de qualquer investida, o mini-tiranossauro lançou sua gigantesca língua em um goomba, num rápido movimento o puxou para dentro de sua boca repleta de dentes. O goomba gritou, mas assim que o Yoshi fechou sua bocarra, o grito cessou. Um filete de sangue desceu pelo canto da boca da criatura.
  O Encanador soltou um assustador “Uhuuuuu!”.
  Yoshi repetiu o movimento e desta vez conseguiu capturar com sua língua um koopa troopa. Eu sabia que casco era praticamente indestrutível, mas mesmo assim meu companheiro foi parar dentro da boca do tal de Yoshi.
  O mini-tiranossauro abocanhou meu companheiro. Eu, na minha humilde inocência, cheguei a acreditar que o monstro iria se engasgar com o casco, porém uma bruxaria muito pior aconteceria em seguida.
  Os goombas e os koopa troopa já estavam quase cercando o Encanador, mas os poderes de nosso inimigo e de seus aliados iam muito além de nosso conhecimento.
  Como se fosse um dragão, O Yoshi começou a cuspir fogo em meus companheiros, como se tivesse transmutado o koopa troopa em bolas de fogo.
  Todos já estavam muito próximos para tentarem fugir e as chamas impiedosamente lamberam todos eles.
  Alguns sem rumo correram em chamas gritando desesperados. Outros onde estavam se tornaram cinza. Em segundos todos estavam mortos. Quase sem transpirar, o Encanador havia conquistado mais um Posto de Controle.
  Foi então que percebi que eu estava cerrando os punhos com tanta força que meus músculos estavam doloridos. Abri minha mão percebendo o quanto tremia.
  A cena dantesca a minha frente parecia irreal. As chamas que ainda ardiam sobre os corpos de goombas e koopas iluminavam o sorriso doentio e sedento por sangue do Encanador.
  Tentei me forçar a parar de tremer. Afinal, eu tinha que correr e falar para todos fugirem. Não tínhamos como vencer.
 
  Olhei novamente para a escuridão do fosso que separava a floresta do Posto de Controle. Com certeza com o Yoshi o Encanador não conseguiria atravessar para a floresta por este caminho, mesmo com a capa. Ele teria que circundar o fosso.
  Ou seja, havia chance de eu conseguir avisar meus amigos do outro posto e ter tempo fugirmos.
  Virei-me para o goomba e sussurrei:
 — Hei. Hei. — ele me olhou com os olhos injetados — Vamos, temos que tentar avisar nosso Posto de Controle. Temos que tentar salvá-los.
  O goomba se pôs em pé e como era de se esperar, cometeu a idiotice que custaria sua vida.
 — NÃO HÁ SALVAÇÃO! ESTAMOSTODOS MORTOS! — gritou ele.
  Foram suas ultimas palavras.
 
  Neste momento eu sabia que estávamos perdidos. Ignorei completamente o goomba e olhei novamente para o Encanador e Yoshi
  Os dois já disparavam em nossa direção.
  Novamente fui tomado pelo desespero, mas lembrei do fosso que havia entre mim e eles. Não havia como chegarem até onde estávamos. O fosso tinha pelo menos uns 20 metros de comprimento. Nem um mini-tiranossauro conseguiria saltar tão longe assim.
  Mas para meu desespero o Yoshi não diminuía o passo enquanto se aproximava do fosso. Será que ele conseguiria saltar esta distância?
  E então Yoshi saltou com o Encanador montado nas suas costas.
  Por instantes acreditei que realmente eles conseguiriam chegar do meu lado do fosso juntos, mas antes mesmo de 7 metros os dois começaram a cair.
  Um fiapo de esperança brotou novamente dentro de mim. Poderíamos realmente vencer esta guerra por culpa de um mísero erro de cálculo por parte de nosso inimigo?
  Quando chegaram à metade do fosso, a queda já era certa, mas o Encanador agiu de forma inimaginável até mesmo para ele.
  Ele ficou de pé nas costas do Yoshi e usando seu aliado como plataforma de impulso, saltou na minha direção.
  Foi como se o mundo ficasse em câmera lenta. Vi perfeitamente o semblante amargurado no rosto do mini-tiranossauro enquanto caia na escuridão do fosso. Também vi a satisfação estampada na cara doentia do Encanador.
  E então a certeza da morte me tomou.
  E assim como tudo havia ficado em câmera lenta, tudo também voltou ao normal com demasiada violência. O Encanador caiu com os dois pés sobre o goomba. O crash dos ossos e o sangue espirrando no meu rosto pareciam fazer parte de um pesadelo. Mas mantive minha postura. Se eu iria morrer, que fosse com o mínimo de dignidade.
  Ele limpou as vísceras do goomba de suas botas, como se fosse fezes de algum animal. Olhou-me então com aquela sua falsa expressão feliz.
  Com o resto de coragem que me restava falei:
 — Maldito Encanador, você me dá nojo. Você chama meu rei de monstro, mas o verdadeiro monstro aqui é você. — olhei de relance para o fosso — Usar o próprio aliado como plataforma. Por quê?
  Ele se aproximou mais e respondeu:
 — Para vencer. Preciso matá-los! — baixou a cabeça, com o boné vermelho escondendo seu rosto — Eu… — ele deu mais um passo — não… — preparou o impulso — perco! — e saltou sobre mim.
  A morte às vezes te encontra virando uma esquina, e às vezes mesmo que ela esteja cara a cara com você, te ignora.
  E como eu desejei ser ignorado naquele instante.
  Eu senti o exato momento em que seus pés me atingiram, mas graças aos santos koopas, eu tinha o meu casco. Meu corpo saiu girando para um lado, quase caio no fosso. Senti o vento em minhas costas.
  Eu estava a salvo, mas por pouco tempo.
  O Encanador parou de frente para o meu casco, olhou para mim e sorrindo disse a frase mais fora de contexto que já ouvi em minha vida:
 — It’s me, Mario! — e chutou o casco em minha direção.
  Deslizando em alta velocidade e soltando faíscas, meu próprio casco me mataria.
  Instantes depois, a escuridão.
  Enfim, eu estava morto.
 
  Pelo menos foi o que eu pensei quando fui tomado pela escuridão do fosso. Mas estranhamente eu ainda estava consciente.
  Aparentemente não cheguei a ser atingido pelo casco. Percebi que estava deitado sobre uma plataforma, olhando para a escuridão. Virei-me e olhei para cima. A luz do dia ainda brilhava. Eu estava a um pequeno salto da beira do fosso.
  Todo meu temor voltou quando vi a ponta do boné vermelho do encanador pela beira. Mas antes que ele conseguisse me ver, algo fez pressão no meu pé e me puxou para junto da parede, e um segundo puxão me engolfou na escuridão.
  Eu estava dentro de uma espécie de caverna ou passagem secreta, camuflada na escuridão.  O alivio por ter sido salvo do Encanador só foi substituído quando comecei a questionar quem ou o quê havia me puxada para ali.
  Não demorou muito para descobrir.
  Senti a pele fria e lisa de algo que lembrava um lagarto encostando em meu rosto enquanto ainda estava deitado. Meu impulso foi me rastejar para fora da passagem secreta, mas Yoshi me puxou novamente para dentro. Eu não conseguia enxergar nada, mas se a criatura quisesse me devorar, já o teria feito. Lembrei-me do momento em que o Encanador usou o pobre Yoshi como plataforma, e da expressão do mini-tiranossauro.
  Provavelmente para Yoshi o Encanador era um traidor.
  Entendi também que fora Yoshi quem havia me puxado para dentro do fosso pouco antes de eu ser atingido pelo meu próprio casco.
  Acariciei a cabeça da criatura e ele ronronou como um gatinho. Achei estranho, mas mesmo assim senti tremenda simpatia por ele.
  O Encanador era meu inimigo declarado, mas Yoshi o tinha como aliado, talvez até amigo. E agora o Encanador o havia traído. A partir daquele momento eu e Yoshi tínhamos um inimigo em comum. Era o que eu esperava.
 — Obrigado por ter me salvado, Yoshi. — me coloquei em pé — Vamos procurar a saída deste lugar.
  Provavelmente Yoshi enxergava melhor que eu ali no escuro, pois se abaixou na minha frente, demonstrando que queria que eu o montasse.
 — Se você insiste.
  E com velocidade extrema para qualquer koopa troopa, partimos adentrando a passagem.
 
  A passagem parecia um labirinto. Passamos por inúmeras salas vazias, com cogumelos, chaves e portas aparentemente inúteis. Por volta de uma hora depois chegamos a uma galeria repleta de moedas de ouro e com um gigantesco cano verde em uma das extremidades.
  Yoshi caminhou até o cano, e para minha surpresa não era simplesmente um cano, mas sim um portal que nos levou até o meu Posto de Controle.
  Antes não tivesse presenciado a desolação daquele lugar.
 
  Mesmo com Yoshi, eu havia demorado demais. Os goombas que estavam fofocando sobre o Rei Koopa e a princesa eram agora apenas um amontoado de ossos, carne e sangue.
  Todos estavam mortos. Minha tropa de koopas também fora dizimada pelo nosso maior inimigo.
  Desmontei Yoshi e caminhei entre os corpos dos koopa troopa e goombas. Até um Magikoopa, seres extremamente poderosos, jazia morto com o crânio afundado e os olhos fora das orbitas.
  Que esperança eu poderia ter?
 
  Em meio a tanta destruição ouvi um gemido. Prendi a respiração para tentar localizar de onde vinha. O som abafado saía de um amontoado de blocos.
  Comecei a retirar os pedaços de blocos quase que insanamente, e Yoshi veio me ajudar comendo bloco por bloco.
  Que criatura fascinante e apavorante ao mesmo tempo.
  Minutos depois conseguimos chegar ao goomba que estava ali soterrado e com um vergalhão de ferro transpassando-o ao meio. Apoiei sua cabeça com meu braço.
  Ele murmurou:
 — S.. sede.
  Me partiu o coração não ter água comigo.
 — Desculpe amigo. Não tenho água.
 — Am… amigo? — ele perguntou olhando nos meus olhos.
  Então me dei conta do quanto sempre fui arrogante e preconceituoso com os goombas.
  Não havia diferença entre ninguém na morte. E também não deveria haver em vida.
 — Sim. Amigo.
  Ele sorriu, porém em seguida tossiu sangue.
  Me perguntou:
 — Seu cas… co?
 — O Encanador. — respondi.
  Ele olhou em volta, indicando que o mesmo ocorrera ali.
  Ele tentou falar, mas se engasgou. Um pouco de sangue jorrou do ferimento causado pelo vergalhão.
 — Economize forças.
  Ele negou balançando a cabeça e disse com dificuldade:
 — Ele está… enlouquecido. — tomou fôlego — Em nossos registros… o… Encanador nunca agiu assim. Nunca foi tão… implacável. — o goomba fechou os olhos, forçando-se a continuar — Ele disse que… des… ta vez não será… um… resgate.
 — Com assim?! — perguntei.
 — A… antes de nos… massacrar, ele disse que… dessa vez será um extermínio. E que… o Bowser vai… queimar nas lavas de seu próprio… castelo… — Achei que ele havia terminado, mas após puxar o folego completou: — junto com… a… princesa.
  Eu nada disse para que o goomba pudesse descansar, mas pelo que ele havia dito, o Encanador havia descoberto a traição da Princesa Peach.
  Senti um bafo quente as minhas costas, e lembrei-me de Yoshi. Seus olhos estavam vermelho fogo. Uma expressão de ódio apavorante. Pelo visto, o que o goomba dissera também o havia abalado.
  Entendi que a fidelidade de Yoshi era para com a princesa, e não com o Encanador.
  Tive a certeza que eu e Yoshi tínhamos então objetivos diferentes, mas que nos levavam a ter o mesmo inimigo: Eu tinha que salvar meu rei, e Yoshi a sua princesa.
  — Não vamos permitir isso Yoshi. Eu prometo.
  Ele concordou meneando a cabeça.
  O goomba estava ofegante e de olhos fechados, infelizmente percebi que não havia muito tempo para ele. Mas eu ainda tinha que saber algo.
  Eu precisava ter uma lembrança.
 — Qual o seu nome, amigo?
 Ele abriu os olhos como se para isso estivesse usando suas ultimas energias.
 — Meu nome? — ele conseguiu sorrir — Claro. — ele fechou novamente os olhos — Pergunte… a… um goomba… vivo… amigo…
  E ele nunca mais abriu os olhos
 
  Me levantei mantendo silêncio em respeito ao goomba morto.
  Passados alguns segundos disse:
 — Vou perguntar. Pode ter certeza.
 
  Virei-me para Yoshi:
 — Vamos, temos que deter um encanador com mania de grandeza.
  Yoshi se abaixou e novamente montei o mini-tiranossauro.
   Partimos em direção ao Posto de Controle mais próximo ao Koopa’s Castle, passando por cada um dos postos no caminho. Para evitar de encontramos o Encanador antes do esperado, fizemos este caminho por dentro da floresta e não pela estrada principal.
  Avisamos as tropas que o Encanador não era mais um inimigo buscando resgatar sua amada, mas sim um vingativo e insano homem traído em busca de vingança
  Eu sabia que não havia muita esperança para estes postos e nem para as tropas, mas eu tinha que ajudar a fortalecer o posto na entrada do castelo. Eu precisava, além de avisar ao rei, impedir que o Encanador invadisse o Koopa’s Castle.
 
  E é daqui, do ultimo Posto de Controle ainda em pé que escrevo este relato. Aguardamos a chegada do Encanador fortemente armados.
  Meu novo casco é mais resistente, e desta vez não vou fugir.
  Meu novo aliado, Yoshi, também aguarda ansioso pela chegada de seu antigo amigo.
  Somos a ultima resistência contra o nosso grande inimigo, e se ele passar por nós, não mais haverá Rei Koopa e nem Princesa Peach.
  Se ele passar por nós, não mais haverá Reino do Cogumelo.

  Que os deuses Koopa nos ajude.


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